quarta-feira, 31 de outubro de 2007

CAMILA: SÓ PUDE TE DIZER "OI !!!"


Oi, minha flor!!!!
Estava com saudades de nossos papos. Estive esta semana com a vida tão corrida, que mal tive tempo para responder aos amigos que me escrevem. Sabe, para falar a você neste espaço, existe um conjunto de regras a ser seguidas...

1 - Privacidade.
2 -Silêncio (por vezes tenho privacidade mas não tenho o silêncio necessário, pois rola um vídeo de futebol na TV do quarto).
3- Certeza que vou escrever sob emoção, mas que a mesma não vai continuar incorporada à mim ao deitar-me (escrevo sempre na madrugada).

Nossa! Qualquer pessoa lendo essas regras Mimi, pensará: como ela é equilibrada... Como mantém controle sobre suas emoções...Aff! Nós duas sabemos o quão é difícil levantar deste computador, mesmo com o dia clareando...
Fui ao Rio na segunda feira para acompanhar seu pai que estava febril, e na esperança de ficar pelo menos até na terça-feira.Mas não deu certo: Geraldo mesmo com febre e dor no corpo resolveu o que tinha para resolver e não quis ficar. Rapidamente achou que deveríamos vir embora, apesar de eu haver colocado roupa do Gustavo que encontrei no cesto, para lavar na máquina e naturalmente fazer mais um enxágüe.
Mimi, como sempre seu pai tem solução para tudo. Deixou-me na porta do prédio e foi lavar o carro, enquanto eu subia para enxaguar e pendurar as roupas do seu irmão.
Precisão cirúrgica: quando ele entrou no apartamento eu estava pendurando o último blusão. Nada falha... O mundo conspira a favor de Geraldo!
Na realidade meu amor, queria ficar um dia a mais: sair na terça feira, mesmo que fosse pela manhã. Precisava vivenciar um pouco seu quarto: ficar silenciosamente lá, escutando os ruídos de minhas lembranças...Enrolar-me ao seu edredon e recordar de coisas tão banais do nosso cotidiano. Porém acredito: a percepção de Geraldo sobre esses momentos, não é igual a minha... Escutar e visualizar em memória com o silêncio da madrugada no seu quarto: suas gargalhadas, inquietações, nossas conversas amenas.
Minhas imposições de limites sem contestação verbal de sua parte. Nossas brigas de beijos, nosso cinco minutos de carinho, antes de você dormir...
Seus chamados na madrugada, com cólicas... Suas insônias em dia anterior a provas.
Os casos engraçados da noite de festa, as paqueras. Os sentimentos mais sérios de paixão jovial que fazia bater forte seu coração Mimi, que acabava por dormir segurando o celular... Preciso destes momentos, não quero ir ao nosso apartamento de maneira rápida! Passei por lá e disse apenas “Oi” para você... Ficou faltando!
Por outro lado entendo seu pai: ele compreende diferente de mim estar no Rio. Dói nele ficar dentro de casa e não te ver: ter a impressão de que você vai abrir a porta a qualquer instante, gritando: -“Meu nome é Camila! Não é “Bagunça” não!!!”.
Sei o porquê de Geraldo não querer ficar, mas sei também que preciso de pelo menos uma madrugada quando chego lá. Pelo menos uma virada de noite...
Minha Mimi, hoje é dia 31 de Outubro e daqui a dois dias a maioria das pessoas vai até o túmulo de seus entes queridos para depositar flores, orar, entoar cânticos ou simplesmente ficar ali por uns instantes... Ano passado até tentamos fazer isso, mas não conseguimos tampouco estacionar o carro: sabíamos que seria impossível dar um passo no sentido de atravessar o portão daquele Campo Santo. Covardia??? Certamente!!!
Este ano com absoluta certeza, seu pai quis vir embora rapidamente, também por temor que eu propusesse a ele a ida até onde a deixamos pela última vez.
Acredito que também não seguiria para lá no dia 02/10, mas certamente hoje, compraria rosas e as colocaria em seu quarto. Faço isso toda vez que vou ao Rio, e sempre deixo o dinheiro para que Iara reponha as flores, quando elas começam a ficar feias. Mas desta vez nem isso pude fazer!Não posso contar com Iara, tão fiel a sua lembrança, pois Dna. Glória - sua mãe - está internada, e nossa amiga está acompanhando como boa filha que é, a mãe no Hospital.
Mas meu amor: não fique triste! Comprarei para você, Orquídeas! Aqui na cidade não existe Floricultura, mas existe bem aqui pertinho de nós, um Orquidário com várias espécies desta planta, cada uma mais bonita que a outra!
Hoje uma amiga que fizemos aqui e que fica com as cadelas quando temos que ir para o Rio, esteve nos visitando, ou melhor, trazendo nossas “meninas”. Fernanda é Veterinária, e ficou vendo pelo computador suas fotos. Achou-a parecida comigo, e brincou com Geraldo dizendo que você não tinha nada parecido com ele...
Esqueci de dizer à amiga, sobre seu pé de Bailarina: igualzinho ao de Geraldo e de sua avó Ondina, com a diferença do tratamento dado ao mesmo por você, que estava semanalmente na pedicure! Acredito que você deve ter feito uma forcinha para eu não falar, né???
Estava agora à noite um tanto angustiada, mas já passou. Escrever a você, é estar em sintonia com a sua energia... Necessito sentir essa emoção aflorada em mim, para poder acalmar-me. Preciso falar a você! E de você...
Camila meu amor: passei tantos anos de minha vida sabendo que meu amor por você e seu irmão é imenso, mas não tinha a real noção do tamanho dele. É infinito... Inexplicável! Dominante, a todos os outros sentimentos...
A incondicionalidade de meu amor por você Mimi, é um fato. Uma realidade que ninguém em tempo algum, roubará de mim...
Peço à Deus que me conceda a graça de, tampouco uma doença senil tão comum ao idosos, consiga te arrancar de minha memória!
Não preciso saber quem eu sou... Mas necessito saber que a tenho!
Saudades, muitas saudades!

CHRISTINA ANTUNES FREITAS

2 comentários:

Paulo Ricardo Paúl disse...

Amiga Christina:
Boa tarde!
Nós, espíritas, temos um modo especial de enfrentar a separação física, consequência lógica das nossas convicções sobre a transitoriedade do corpo físico.
Vez por outra, brinco com amigos e digo que os espíritas não tem fé, os espíritas tem certezas.
Isso mesmo, nós não "acreditamos", nós temos certeza sobre a vida eterna e sobre a nossa evolução moral e espiritual.
E isso não nos faz melhor do que nenhuma outro ser humano que vivencie uma religião baseada na fé, pois cada um encontra seu caminho até Deus.
E Deus está em todos nós.
As nossas convicções nos fornecem uma arma de defesa a mais sobre a morte, elas nos confortam, pois sabemos que a morte não existe.
Na minha casa tem um retrato da comemoração dos 50 anos de casados dos meus avós Paulo Vicente e Maria, onde també aparece meu pai Vicente.
Os três estão juntos brindando e os três já desencarnaram.
Eu os sinto vivos, eternamente vivos, não consigo vê-los findos.
Christina, você escreve como poucos sobre esse amor que ultrapassa as barreiras da morte física.
Esse amor que está sempre vivo.
Esse amor que nunca deixará de existir, na certeza de que tudo não passa de um "até breve".
Um abraço fraterno.
Paulo Ricardo Paúl.

CHRISTINA ANTUNES FREITAS disse...

Amigo Paulo Ricardo:

É a certeza de meu reencontro com Camila que faz com que dia à dia eu me cuide, e brigue pelas coisas que ela ama...
Quero chegar ao nosso reencontro e poder dizer: - "Mimi, acho que continuei seu trabalho! Meu nome é Christina, não é Bagunça não!!!"
Mas sabe Paulo Ricardo, sou uma Espírita que preciso ainda estudar muito para entender profundamente a doutrina. Mas um dia eu chego lá!

Um grande abraço,
CHRISTINA ANTUNES FREITAS