CAMILA COM DUDA E ROBERTA CHRISTINA
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Minha Flor de Maracujá!
Esta foi uma semana difícil, em que eu tentava de todas as maneiras ao pensar em você, não sentir angústia... Alguma coisa diferente entre as nossas energias estava acontecendo e não fui capaz de intuir o que era.
É uma situação tão aflitiva que talvez as pessoas que possam ler o que estou escrevendo não entendam bem. Eu sinto a sua angústia e ao mesmo tempo você deve sentir a minha.
Tentei passar em minhas lembranças nossos melhores momentos, mas nada fazia aquela sensação estranha desaparecer.
É uma situação tão aflitiva que talvez as pessoas que possam ler o que estou escrevendo não entendam bem. Eu sinto a sua angústia e ao mesmo tempo você deve sentir a minha.
Tentei passar em minhas lembranças nossos melhores momentos, mas nada fazia aquela sensação estranha desaparecer.
.Tá bom Mimi!!!! Sei que você não simpatiza com a idéia de eu colocar esta foto em que você com semblante de quem ”acabou de acordar”, segurando suas duas cadelas: DUDA (a maior) e Roberta Christina (a menor e que já faleceu). Mas perdoe-me: a causa é justa e a história é comprida.
.Mas vamos lá!!!
.A quatro meses atrás um dia cheguei do Rio e encontrei uma cadela no meu portão. Estava doente, sem forças, e com feridas no corpo que aqui no interior chamam de “bicheira”.
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Coloquei minhas coisas em casa e tratei de separar uma vasilha com água e outra com ração. A cadela bebeu a água avidamente, mas não conseguiu comer. Notei que havia um tipo de “capim” em sua boca e gengiva e resolvi chamar Geraldo prá me ajudar. Enquanto fazia isso do lado de fora da casa, DUDA como sempre, queria uma brecha no portão para atacar a cadela que comecei a chamar de PRETINHA.
.Meu amor, seu pai chegou e logo diagnosticou:
- Chris, isso não é capim. Isso é Espinho de Ouriço.
Tentei tirar com a unha (estava de luva) e não consegui. Foi preciso eu segurar a cadela e seu pai com um alicate, retirar cada espinho que estava espetado nas gengivas da PRETINHA.
.Mimi, você pode imaginar o sufoco, mas conseguimos. Depois desse episódio PRETINHA não saiu mais do meu portão. Tratei de procurar ajuda Veterinária (0800 – Dra. Fernanda), e fui cuidando dos ferimentos que aos poucos cicatrizavam.
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Mas sabe como é: uma cadela que vive solta, cada dia aparece com alguma coisa diferente. Prá você ter idéia do quanto estou rural, até "Berne" eu cansei de ter que espremer em PRETINHA. Depois de espremido o tal do Berne (acredite: o bicho tem até pelo, ugh!) e depois de fazer a Higiene do ferimento, é colocado um produto azul, que tem o nome de "Mata Bicheira"!
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Céus Camila! Que saudade sinto por vezes de um Shopping...
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.Prá encurtar a conversa, PRETINHA foi ficando do portão para fora, pois DUDA não admitia tampouco que ela enfiasse o focinho entre as grades, tendo a mordido algumas vezes.
.O que não estava em meus planos era PRETINHA entrar no cio, ficar prenha e manhosa. Muito manhosa...
Todo dia ao colocar a ração pela manhã e à noite, eu tinha que fazer carinho na barriga da cadela, conversar com ela no meu linguajar tatibitate-canino, para desespero de DUDA que não se conformava. Depois de atender a PRETINHA, dava uma atenção redobrada à DUDA por causa da ciumeira.
.Um dia eram 17 hs e PRETINHA ao deitar em frente à casa, notei que estava perdendo água. Não deu outra: na madrugada ela pariu nove filhotes.
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Às seis da manhã estava cambaleante e chorando em nosso portão. Dei água e comida e ela levou-me à toca que havia feito. Coloquei bastante água e ração para ela não ter que andar (atravessar a rua).
E assim foram transcorrendo os dias: PRETINHA deitada na toca e amamentando seus nove filhotes (sete machos e duas fêmeas).
.Meu amor: os problemas começaram quando nós precisávamos ir ao Rio.
Apesar de conhecermos pessoas gentilíssimas, como um comerciante da Cidade que trata dos cães de rua e outras tantas pessoas que vez por outra paravam aqui com ração, enfim, pessoas de espírito nobre, que nos ajudavam em nossa ausência (três dias no máximo), as coisas complicaram.
Como a estrada aqui é passagem para casa deste Comerciante, ele trazia sempre comida e água para PRETINHA. Mesmo eu estando aqui várias vezes passou e deixou ração. Mas, naturalmente ele fazia isso pela manhã e à noite, pois precisava trabalhar. Combinávamos com ele quando tínhamos que nos ausentar.
.Mas sabe como é: as pessoas mesmo nesse meio rural, acham que abrir uma rua e fazer umas casas bonitas, podem ser intituladas como "donas do mundo".
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Aqui onde moro, colocaram o nome de Condomínio, mas veja bem: é passagem de boiada, de cavalos, de trator que sobe para apanhar cana e desce abarrotado da mesma, o dia todo! Ah! Mas é um Condomínio, e como tal: alguns ilustres moradores não gostam que cães passeiem aqui.
.Engoli sapos, vomitei outros e fui levando a situação até encontrar PRETINHA envenenada um dia em que cheguei do Rio (não posso dizer que tenha sido alguém daqui do Condomínio, pois esta é uma prática de algumas pessoas da Cidade).
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Conseguimos salvá-la e tivemos ajuda de umas moças de uma Pousada, que nutriram os filhotes que não podiam mamar, pois ainda havia veneno na corrente sanguínea da PRETINHA.
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Um dia, nossa jovem mãe que já estava andando, resolveu transportar os filhotes para meu portão.
.Sabe Mimi, temos noites aqui com temperatura de quatro graus. Então coloquei uma casa de cachorro no portão e as crianças ficavam ali. A mãe não queria mais amamentar: os filhotes com um mês já tinham caninos.
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.CREIO EM DEUS PAI, MIMI !!!!
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.DUDA estava cada dia mais alerta: pronta para engolir um cachorrinho.
Eu e Geraldo antes de tomarmos café da manhã colocávamos a comida dos filhotes (ração, leite) senão eles choravam muito. Os bebês comiam cinco vezes por dia... E DUDA trancada na parte alta da área, com bastante espaço, porém doida para agarrar ou PRETINHA ou os filhotes. Tentei várias aproximações, mas notei que na primeira bobeada, seria fatal. Enquanto eu ficava em casa deixava DUDA solta, mas se saísse a prendia, pois as crianças já entravam pelas grades para pedir comida.
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OS FILHOTES DE PRETINHA
(SÓ APARECEM OITO, POIS UM ESTAVA EM MEU COLO)
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Na segunda feira passada, colocaram um bilhete desaforado para mim. Respondi com uma carta e, anexei uma xérox do bilhete recebido. Entreguei em cada casa, já que era de um anônimo e se dizia representante do Condomínio.
Na parte da tarde uma pessoa veio aqui, desculpou-se, trouxe flores, e dei por terminado o assunto.
Na parte da tarde uma pessoa veio aqui, desculpou-se, trouxe flores, e dei por terminado o assunto.
Sabia que não poderia ficar com os filhotes, mas esperava que eles amadurecessem mais um pouco para entregar em algum lugar. Não consegui quem adotasse algum, pois a Cidade não gosta de cães e aqueles que gostam já estão com sete ou oito em casa. Decidi então, que hoje entregaria as crianças à ZOONOZE de outra Cidade, pois aqui não existe.
Levaria para outro Município. Já estava tudo preparado, apesar de termos a certeza que ficaríamos tristes. Por outro lado, sabíamos que seriam bem tratados.
.Sabe Mimi: veja como alguns encarnados são maus...
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Ontem saí, fui até ao Centro ouvir uma Palestra e depois fui dar um abraço à uma amiga que aniversariava.
.Quando cheguei encontrei os filhotes espalhados pela rua.
Quando abri o portão vi que meus vasos de plantas estavam quebrados, com terra espalhada. Quando olho o portão que separava a DUDA, vi que o mesmo estava caído para dentro (o normal seria se ela tentasse sair, que o empurrasse pois há uma ladeira). Limpamos a entrada e com a pouca iluminação fizemos o possível. Fui ver a comida dos filhotes e pensei: vou pegar já a DUDA na casa dela (você sabe que toda vez que ela faz uma “M” : se esconde).
.Fui até a casa chamei e nada. Estava bem escuro e resolvi acionar um bichinho de borracha que ela tem como filho e faz barulho. Quando quero que ela entre em casa, o som do mesmo faz com que ela venha correndo. Cansei de apertar o brinquedo. Chamei seu pai, pedi para vir com a lanterna e eis o susto: DUDA não se encontrava.
.Fiquei a madrugada gritando por ela e fazendo barulho com o bicho. Nada aconteceu.
.Pela manhã, vimos o que realmente ocorreu: entraram na parte externa da casa e LEVARAM a DUDA. Até a tampa da caixa de gordura foi arremessada longe, e pelo que vimos, ela resistiu ao ser levada.
.Saímos pelos campos, estradas vicinais, pelas fazendas e nada. Fui até o DPO onde fui muito bem atendida e encaminhada para a Delegacia de Valença, pois aqui somos Distrito.
.Pensei até que somente no DPO tudo se resolveria, mas os Policiais me alertaram que invadiram minha casa, e que o caminho seria este. Para nossa pouca sorte uma tal de "ventuinha" do carro, deu pane e somente na segunda feira (hoje) após às 11 hs, vamos poder ir até Barra do Piraí para comprar tal peça. Depois disso é que vamos à Valença na Delegacia...
Mimi, já ouviu um ditado que diz: "Quando a maré tá de azar o debaixo "caga" no de cima"? Pois é: é mais o menos assim o que tem acontecido nos últimos dias.
Ontem, Domingo, resolvi antecipar e levar os filhotes (um amigo deu carona) para a Faculdade de Veterinária de uma Cidade próxima, com medo que nesta noite pudessem matá-los. É tudo tão triste!
.Fico pensando na DUDA, que saiu de um apartamento do Rio de Janeiro e veio morar aqui, mas que não gostava de sair de dentro de casa. Estamos com um frio de quatro a cinco graus na madrugada. Ela jamais teve que caçar para comer, e na realidade temo que a tenham levado para longe ou a tenham matado.
.Não é segredo que existe aqui algumas pessoas que dão chumbinho para cães e gatos. No momento, uma Veterinária e seu marido, estão fazendo uma campanha na cidade para vacinação dos animais de rua e algumas pessoas têm pensado na proposta de arrumarmos um local para tratarmos dos animais doentes, fazermos a castração, etc.
.Mas Mimi, enquanto isso não acontece, confeccionamos agora à noite vários cartazes com a foto de DUDA, para espalharmos pelo comércio.
.Espero meu amor, que você possa estar de alguma forma guiando os passos de nossa MARIA EDUARDA – DUDA, escolhida por você quando nasceu lá em casa no dia 30 de Janeiro de 2000.
.Era meu aniversário e você simpatizou logo com a mais “feinha”, pois achava que ninguém ficaria com ela.
.Durante os anos que convivemos juntas com DUDA muitas alegrias e algumas brigas: no dia do Baile do CMRJ, DUDA roeu seu sapato da Farda de Gala! Era você chorando e eu tampando os buracos do sapato com um grude de massa e graxa. Isso sem dizer no tanto de pasta de dentes que ela tirava de sua mochila e da mala de seu irmão...
.Mas hoje, se DUDA está vagando por estas estradas, deve estar com fome, frio e medo...
.Ajude-me Minha Flor, a encontrá-la. Já te perdi, e aos poucos vou perdendo as coisas e criaturas que você amava tanto.
.Quanto à pessoa que fez isso? Aqui é um lugar pequeno, mais dia menos dia saberei. O castigo ficará a cargo da Justiça e de Deus!
.Sabe? Queria saber quem inventou que com o tempo eu sofreria menos sua perda????
.Está cada dia pior!
.Necessito tanto do seu ombro, dos seus dedos finos passando em meu rosto, me acarinhando e dizendo: - Não chora não, mãe! Não gosto de te ver sofrendo!
.Minha Mimi, hoje pensei tanto que Deus poderia me achar merecedora, e abreviar nosso encontro... Te amo demais minha filha! Estou fragilizada: sinto que não estou agüentando...
.Desculpe o desabafo Mimi, mas sei que somente você consegue entender precisamente o que sinto.
.Muita saudade Minha Flor de Maracujá! Ore por DUDA!
.Como sempre meu amor, aguardando o momento de nosso reencontro...fique em paz, olhando sempre por nós!
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Beijos da mamãe!
.CHRISTINA ANTUNES FREITAS
VALEI-NOS
SÃO FRANCISCO DE ASSIS !!!
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