terça-feira, 3 de março de 2009

" OCTÁVIO ANTUNES VIEIRA "

.
Amigos:
Há uma frase abaixo de meu nome no Blog, que é a seguinte:
"Sempre que defendo direitos, faço por convicção e por respeito aos códigos de conduta passados por minha ascendência."
.
Parece uma frase um tanto arrogante, mas sendo neta de um homem excepcional chamado OCTÁVIO ANTUNES VIEIRA, não poderia ser diferente. Ele passou para os filhos e netos, toda a noção de caráter e retidão que um ser humano deve ter.
.
Arrumando guardados de meus pais, deparei-me com um velho Jornal, o "ALÉM PARAHYBA".
Um Semanário datado de 2 de agosto de 1959 (eu tinha seis anos). Nele existe um Artigo escrito pelo Exmo. Dr. Juiz de Direito, Álvaro Lima Costa, que mostra de maneira magnífica a vida de meu avô. Neste artigo, Dr. Álvaro despede-se de seu grande amigo, que falecera dias antes.
.
Abaixo a transcrição: (procurei transcrever com a acentuação e pontuação original)
...
OCTÁVIO ANTUNES VIEIRA

O Octávio morreu! Foi assim, com estas três palavras secas e duras, um definido, um pronome e um verbo no pretérito perfeito, sintéticamente, que a triste noptícia correu a cidade de extremo a extremo e, entre surprêsa e desolada, acordou-a na manhã fria de 26 de julho.
Octávio Antunes. Esse nome vinha num convite tarjado de negro. Quem fôra Octávio Antunes? Perguntai a cidade, do seu passado mais distante, ao seu povo, as suas letras, e a resposta virá de pronto, como se fôra um éco, neste comentário ligeiro, porque uma vida intensamente vivida não pode caber na estreiteza de uma crônica.

Há quarenta anos passados, ou talvez mais, Octávio Antunes, tebano, porque nasceu em Tebas de Leopoldina, aqui radicou-se, casou-se, criou filhos, não chegou a conhecer a prosperidade, amargou muitas desilusões por certo, lutou em vários sentidos com a inteligência e as forças físicas, e morreu depois de muito sofrer nos derradeiros mêses de vida.

Conhecemo-nos ha muitos anos também, quando aqui me radiquei, e uma forte simpatia, sem necessitar de demorado convívio, parece que invadiu-nos ambos. Senti desde logo sua grande inteligência, sua alta penetração intelectual, sua agudez de espírito, seu raciocínio pronto e analítico, seu imenso penhor literário para a prosa e a poesia. Conversamos muito e muitas vezes e, assim, pude aquilatar que sob a roupagem de impressionante modéstia, com atitude esquiva em demasia, morava em seu cérebro um formoso talento multiforme.

Muitas vezes, sempre com vivo prazer, conversávamos sôbre assuntos variados, de preferência sôbre as coisas do espírito, e eu me deliciava em ouvi-lo nos momentos rápidos e fugazes em que se despreendia da modéstia e voava em planos altos da inteligência. Eram poucas essas ocasiões, mas eu me fartava e sentia saudade de sua prosa têrsa e elegante, de sua crítica elogiosa ou mordaz, de sua VERVE inesgotável. As vezes declamava a bôa poesia, mostrando, poeta que era também, as gemas que se alinhavam em versos líricos, épicos, grandíloquos. Eu ouvia, e também retrucava declamando, e as horas passavam-se insensíveis. Foram poucas essas oportunidades, mas eu guardo a viva lembrança desses momentos de encantamento intelectual.

As vezes releio seus artigos e vou encontrando aqui e ali trechos magníficos, conceitos elevados, comentários maliciosos, descrições seletas, sempre em estilo leve, corredio e bem cuidado. Outras vezes sua pena fere, diminue, machuca, ridiculariza, deixa cicatrizes que jamais se apagam porque penetram fundo na epiderme visada. Nunca li seus versos, mais ouvi-os muitas vezes.

Octávio Antunes foi de fato um exímio Defensor na esfera Tributária e sua inteligência manifestava-se também nos Tribunais Criminais e na Polícia Judiciária e muitos são os sucessos tribunícios que soube alcançar defendendo nos auditórios desta comarca.

Viveu Octávio longos anos, e morre, dizem quase aos oitenta anos, porquê ele próprio, na sua filosofia de vida, nunca se impressionou com os anos vividos mas com os anos a viver ainda e ainda trabalhar para viver.

Seus restos mortais lá estão no nosso Campo Santo, num alto de que se descortina, cá em baixo, o Paraíba e esse desdobrar de vales que lhe marcam o curso sinuoso, ilhado e enfeitado de pedras.

Estão sob as ramadas de um grande Angico branco, que lhe marcará o túmulo. Ele amava as árvores e aquela será sua companheira na solidão.

Dormirá para a eternidade o seu corpo, mas sua inteligência viverá na memória dos que com êle conviveram nas lides do espírito e nas páginas que deixou como marca de seu formoso talento, e a sua bondade nunca se apagará em nossa recordação. Os seus choraram sua morte e, ainda e sempre, hão de chorar seu desaparecimento.

Octávio estas palavras são o meu depoimento sobre a riqueza do seu célebro previlegiado, sôbre o fulgor de seu estro poético, sôbre seu estilo magnífico de cronista e polemista, e, são a última e sincera homenagem de quem teve o prazer de sentir fulgurações de sua grande inteligência e de experimentar a infinita bondade de seu coração e merecer a sua amizade! Descança em paz!

Adeus!

Álvaro Lima Costa
..
Creio que devia ao meu avô OCTÁVIO, esta pequena homenagem.
Seus versos: sei alguns de cor, e tenho certeza que um pouco de minha ironia, devo à este avô que em seus dias finais, falava à minha avó:
.
"-Nair: se eu estiver muito mal,
quase morrendo e falar ÃO, ÃO, ÃO,
por favor: não chame o Padre para a Extrema Unção!
O que eu quero é que tragam um VIOLÃO!"
.
..
Um grande abraço,
CHRISTINA ANTUNES FREITAS

Nenhum comentário: