quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CAMILA: ESTOU VOLTANDO A BRINCAR !

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Oi, meu amor!
Ando tentando escrever menos – acredito por vezes, que te atrapalho – mas são tantas as novidades e é tão grande a certeza que você anda querendo de alguma maneira manter contato comigo, que aqui estou no computador.
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Seu contato minha flor, sei que devo esperar com paciência. Tenho a convicção que daqui algum tempo acontecerá... Sinto seu perfume por perto, uma quentura ao meu lado em algumas situações... Sei esperar.
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Mas Mimi, creio que ando em uma nova fase de minha vida. Não sei se é passageira ou será assim para sempre: porém acredito que alguma coisa ocorreu com o meu temperamento.
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Lembra-se de nossas brincadeiras em casa? Quando imitávamos personagens caricatos, mas sempre tendo como platéia somente seu irmão, seu pai, Júnior e Márcia? Ríamos muito, mas eu somente brincava deste jeito diante de vocês. Sempre fui um pouco mais séria em ambientes fora de nossa casa. Acredito mesmo que até por não ter uma “turma”, fui ficando séria demais.
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Tenho a impressão que erradamente, quando da minha união com seu pai resolvi que estava entrando em uma nova fase da vida, e assim não devia carregar para dentro do casamento nenhuma amizade da época de solteira.
Falava uma vez ou outra com uma amiga, mas nunca mais saímos juntas para um lanche ou coisa parecida. É lógico que havia por perto a cumplicidade de seu pai: ele jamais teve problemas com amigos de minha turma, mas também nunca fez cara bonita para eles...
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E dessa forma minha flor, fui ficando com o meu mundinho bem cercado, e sendo assim só me dava ao luxo de brincar em nosso ambiente familiar.
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Temos aqui no interior, uma turma bem heterogenia em idade, mas bastante homogenia em amizade, compreensão e harmonia.
Nos reunimos sempre aos domingos em casa de um de nós (salvo, minha casa, que de tão pequena não dá para mais de meia dúzia de pessoas). Durante o final de semana estamos sempre juntos nos recitais de “Chorinhos”, na rua do Meio, na Vila Antiga...
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Mas os Domingos depois das 14 hs, passou a ser nosso encontro para comer, cantar, brincar de mímica (descobrir nome de filmes, etc), e inclusive fazer umas “palhaçadas”: tipo imitação caricata de duplas de cantores, e assim por diante.
Damo-nos ao luxo de voltar a brincar como fazíamos na infância e adolescência... Caso apareça música dos anos 60, há sempre uma Coreografia...
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Mas Mimi, o grande motivo de espanto é o fato de eu haver “perdido a vergonha” !
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CREIO EM DEUS PAI!!!!
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Brincamos tanto no último dia 14.09 que cheguei exausta em casa, e com a certeza: não fiz aquelas caricaturas sozinha... Você estava lá!
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Vamos dividir essa conta, Mimi?
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Acredito que repeti todos aqueles personagens que você fazia em família: que ia do Boneco de Olinda até “Biba” na Escola de Samba...
Caraca! Ainda bem que nosso grupo é bem fechado, e todos pagam um mico! Mas... Não fiz isso sozinha não! Olha a parceria Dona Camila!
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Veja bem: até seu pai com aquela cara de santo, entrou na brincadeira.
Existem dois amigos que estão ensaiando um dueto musical em que é preciso um clima mais calmo. Nós os amigos, já estamos vendo este ensaio pela enésima vez, e tentamos à muito custo nos mantermos quietos... Mas dia 14, quando começou o ensaio e o amigo do dueto pediu silêncio, notei que havia algo no ar. A senhora que canta com ele tem um ótimo humor, mas nosso amigo gosta de levar o ensaio de maneira muito séria...
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Ficamos quietos e ele entrou com a parte dele. Cantou de maneira impecável! Quando nossa amiga prosseguiu cantando a parte dela, colocamos junto um Batidão de Funk, e todo mundo dançou... Foi muito hilário!
Fizemos em Funk, Samba, Forró, e até em batida de música Afro Brasileira...
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Meu amigo cantor ficou chateado no começo, mas depois entrou na brincadeira. Ele sabe que não estávamos desvalorizando o trabalho musical, mas somente brincando com a nossa parte de expectadores constantes do ensaio. Foi muito bom!
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Viu Mimi? Mamãe conseguiu recuperar emoções vividas à quase quarenta anos, quando estava na adolescência.
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Claro que recordei nossas brincadeiras caseiras: só não fiz a “Procissão de Animais do Mercadão de Madureira”. Essa “performance” poucos poderiam entender, afinal não conheceram o Mercadão antes do incêndio. Acredito que nem depois...
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E seu pai santinho? Só na percussão, ou no violão (primeiros acordes)!
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Foi muito bom,
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precisava dessa alegria!
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Como você pode observar, passei vinte e um dias em nosso apartamento no Rio e apesar da necessidade de estar lá, sofri muito a sua ausência...
Houve dia que parecia que eu ia enlouquecer! Não havia vontade de fazer nada, não tive ânimo para sair, não conversei com ninguém...
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Fiquei ali revivendo nossas lembranças e te procurando em cada pedaço de papel que você houvesse escrito, em suas anotações da Faculdade, em suas roupas, em seu caderninho cheio de corações flechados feitos por você e com estrofes de versos...
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Te procurei tanto Mimi”! Mas finalmente vi que até poderia fazer um mosaico com roupas, bolsas, bijouterias, cadernos, bonecas, enfim, com tudo que te conteve concluindo assim seu formato físico, mas que a verdadeira Camila, eu só poderia encontrar em minhas lembranças, em meu coração e na minha eterna saudade!
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Perdemos uma amiga: Cleide Prado Maia. Esta senhora Mimi, fazia um trabalho maravilhoso em uma ONG que criou após o falecimento de sua filha. Certamente Cleide a esta hora deve estar sendo amparada por sua filha Gabriela, em um abraço que todas nós “mães viúvas de seus filhos” esperamos.
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É com essa esperança que vivo... Vamos nos reencontrar!
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Mas Camila, enquanto estiver encarnada aqui neste Planeta de Provas e Expiações (Terra), gostaria de poder amar meu filho e sua família com o ameno distanciamento que nós mães devemos ter com nossos filhos já casados, esperando assim a respeitosa reciprocidade.
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Quero muito minha flor, ter a liberdade de trabalhar por DEMANDAS JUSTAS e ajudar, pelo menos com palavras, aqueles que necessitam.
É claro que tudo isso, não esquecendo dos cães que aparecem diariamente à minha porta: doentes, e que cuido e alimento, para o desespero daqueles que gostam de distribuir “chumbinho” aos animais de rua.
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Tudo isso meu amor, enquanto encarnada...
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Depois, sei que estarei em seus braços, tal qual Cleide deve estar neste momento sendo acariciada por Gabriela!
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Te amo muito, minha filha!
As saudades são imensas, mas a certeza do nosso reencontro me faz lutar por uma vida de boa qualidade Física e Espiritual!
Saudades! Muitas Saudades!
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CHRISTINA ANTUNES FREITAS




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