quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CAMILA: MINHA FLOR DE MARACUJÁ!

Oi, Minha Flor de Maracujá!

Sei que você certamente está observando que tenho passado bastante tempo sem escrever sobre você, ou para você. Estou atravessando um período, que considero como uma fase de defesa. Não posso andar emocionada, e escrever é uma coisa que faço durante à noite.

Para não ter como levar adiante minhas “escrivinhações”, tomo calmante e ele me faz sair de cena cedo. Não que eu consiga dormir, mas certamente, não chego a catarse de meus sentimentos.

Muitas vezes fico aqui, frente ao computador, olhando o nada. Não vou mentir e dizer que fico revendo fotos, pois até isso ando blindando . Fico diante do teclado de forma passiva , propositalmente, uma vez que falar em você me remete a tempos maravilhosos, que me emocionam e trazem uma saudade absurda!  Época, em que eu podia sentir o amor filial de forma explendida e fazer a troca, te ofertando meu amor maternal incondicional.

Trocar amor, é indispensável para a vida... Nós trocamos, e não barganhamos nada! Fomos e somos parceiras: nunca tivemos estranhamentos que não fossem resolvidos antes de dormir.   Passeamos, as duas,  entre o amor perene e o amor arrebatador, pois quando as coisas esquentavam para o lado de uma , a outra colocava para fora a sua face guerreira, protetora e obstinada...

Estou desde do dia 31 de Dezembro fazendo o possível para levar este mês de Janeiro e  até o dia 02 de Fevereiro, de forma menos sofrida.  Hoje, não sei porque, não deu para ficar imobilizada!   Abri o que já escrevi de “MEMÓRIAS DE CAMILA” (já fiz mais de dez revisões do texto) e fui até o dia 19 de Janeiro de 2006.   Li sobre os acontecimentos ocorridos do lado de fora do CTI  e sobre a sua rotina neste dia. Diante de tantas coisas, retirei de lá este parágrafo:

“A médica Neurologista conversou comigo sobre todos os riscos, e também sobre as poucas possibilidades de Camila, uma vez que minha filha estava caminhando para falência de múltiplos órgãos. Havia também a hipótese, quase confirmada, do quadro neurológico de Camila ser irreversível. Porém, para essa afirmação, deveriam ser feitos alguns exames sem os medicamentos usados para controle do coma e das convulsões. A médica já me preparava para a morte encefálica de Mimi”

Pois é, Minha Flor... É difícil não me lembrar daqueles dias nesta época do ano. Não que em outros meses do ano eu me esqueça do seu sofrimento, cruel,  tanto da parte física quanto da parte espiritual. Não! De forma alguma... Porém, dou mais vazão às lembranças dos dezenove anos maravilhosos que vivemos!

Estou sempre lembrando de suas gargalhadas, de seu aroma, de sua pele...   Sinto - como já disse - seu cheiro, seu toque! Escuto sua voz, e por vezes  -  você sabe disso -  fico entre o sono e a vigília,  e dessa forma,   experimento seu abraço amoroso me enlaçando. Quando isso acontece, passo uma grande parte do dia com o lado em que percebi seu toque, com   a    temperatura bem    mais    elevada  . Também ,  e    praticamente  sempre ,   sentindo seu cheiro ,  seu hálito , principalmente  quando voce diz algumas coisas para mim... Ah, o hálito é o último a ir embora: perdura quase até à noite!

Então meu amor, sei que você entende perfeitamente o que anda acontecendo... Sinto sua falta de uma maneira que somente nós, mães viúvas de seus filhos, devem sentir. Acredito que com todas deva ser igual, apesar de eu conhecer pessoas que passam por esta “maldita provação”, com brandura e coração menos dolorido. Ah! Cada um com seu cada um...

Precisava  nestes tempos atuais, de seu amor presente e encarnado, para poder passar de maneira mais leve por coisas bem desagradáveis que tem acontecido.  Mas ao mesmo tempo,  sei que você me ampara, e apesar de andar muito triste com acontecimentos que vê repetir (recebi seu recado), está ao meu lado, vigilante.  Ah, minha Mimi…  Sempre me  acolhendo e confortando,  afinal,  somos sabedora que a VERDADE de alguma forma aparecerá. Hum... Tá certo: por vezes de forma dolorida, já sabemos!

Amanhã é dia de São Sebastião, e não deixo nunca de recordar nesta data, de um Bombeiro que você brincava muito com ele.   Creio que era um Cabo ou Sargento do GMAR e que ao encontrar-me no Hospital , acabou por saber de sua internação no CTI. Nosso amigo muito tocado e emocionado diante da notícia,  pediu-me para que eu fizesse com ele uma Oração ao Santo Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro. Oramos, fervorozamente,  juntos!   Tenho certeza Mimi, que de alguma forma esta Oração, feita com tanto amor e com pedidos de conforto, chegou a você.

À este irmão Bombeiro, seguidor de São Sebastião, meu agradecimento por todo sempre!

Minha Flor de Maracujá: vivo na esperança de nosso reencontro, que tenho certeza, acontecerá! Estou me cuidando!

Saudades, muitas saudades...

CHRISTINA ANTUNES FREITAS